terça-feira, 10 de abril de 2012

                                          Tantas coisas a esquecer

Queria poder esquecer tantas coisas que me entristeceram e marcaram  minha vida para sempre!
A primeira infância solitária,isolada num mundo particular com minha
boneca Cecília.O pavor do primeiro dia de aula em que entrei sozinha na
escola sem a companhia da minha mãe.
Da professora que escondeu os docinhos da minha festinha de aniversário
e só ofereceu pipoca.
Da vez que escrevi Sabiá com ç,e todas classe deu risada.
Da vergonha que sentia quando os meninos me chamavam de gostosa e
eu nem sabia como lidar com isso,mas já invejada pelas outras meninas e criticada por minha mãe.
Queria esquecer o deserto afetivo em família para poder construir uma outra.,mais continente,equilibrada e respeitosa.
Queria esquecer da rejeição e tornar-me uma mulher mais segura de mim.
Queria esquecer que meu primeiro amor preferiu me ter como amiga e namorou a minha melhor amiga.
Queria esquecer os amigos mortos pela AIDS,as traições amorosas e fraternas.A doença e morte de meu pai e sobrinha.
AH! tantas outras memórias poderiam ser apagadas da minha cabeça.
Mas não, foi esta maldita doença que nasceu comigo e que  obriga a tomar um determinado remédio,que me faz  esquecer  de  coisas fundamentais para o dia dia .onde coloquei meus óculos,minha agenda,,meus documentos o que iria dizer ou escrever ,compromissos,em  .fim, enlouquecedor !
Esta doença que retirou de mim o prazer pela minha profissão e me trancou no quarto.
Este remédio que faz com que escreva de trás prá frente,que perca o vocabulário desenvolvido pelos anos de leitura.Que me tirou a concentração para a leitura.
Ah,porque já não me tira de vez a memória,para que  eu não tenha a consciência desta  degeneração lenta dos neurônios,que me transforma num fantasma risível da pessoa que fui.









http://suzana-meirelles.blogspot.com/

3 comentários:

rúcula disse...

.2
quando meu irmão tinha 10 meses minha mãe me teve - senhora parideira, não? isso levou a que nós dois sempre fossemos colegas de sala desde o antigo primário. minha mãe lecionava no "grupo escolar" em q estudávamos e éramos ótimos alunos, claro. ao chegarmos à 3º ano, uniformizados e lindos, nos assentamos juntos. a primeira atitude da srª foi nos separar, coisa q nunca foi problema para as professoras anteriores. ok! foi ele sentar-se em outro lugar e permaneci no meu. qual o problema? feita a chamada, etc...ela levanta uma questão para a turma responder: quem é mais inteligente? a rúcula ou o espinafre? esse é meu irmão aqui, ok? saiba q adoro espinafre.
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houve uma divisão nas respostas, até que a srª insiste: tem que ser um só. vamos! e pergunta de novo. e a resposta foi: espinafre. unânime, era a resposta ansiada pela mulher. comecei a chorar e ele foi até mim dizendo q não acreditasse. e pedi pra ir ao banheiro, onde chorei mais. ela foi buscar-me pq tinha q continuar a aula. e sem o menor afeto foi levando-me pela mão até a carteira. imagine como me senti. "criança tem dessas coisas" diz um ditado popular, q é tão usado qdo não se quer buscar a razão das coisas que a criança tem, não acha?
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hoje tenho certeza que quem quer a unanimidade é burro. só hoje, rs. pelo exemplo acima.
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fomos para casa e minha mãe percebeu que eu não estava legal. e não falei nada mas ele falou o porque. veio me consolar, etc... e nada disse. no dia seguinte ela chamou a colega de trabalho e pediu que a aceitasse na sala dela por uns minutos. advinha? desmontou o que a colega havia feito no dia anterior. e de mãos dadas com nós dois, na frente da sala toda. e tudo acabou em risos. nossos.
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delícia, não é su? e ele para mim: tá vendo, boba? não precisava chorar. ah! em casa foi o assunto no almoço. meu pai ficou uma fera e queria também se manifestar. mas a história morreu ali. morreu? qual o que? se de uma lado eu não estive só, por outro su, a certeza de que o homem vale mais que a mulher teve sempre que ser trabalhada por mim.
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assim se cria o machismo: desde criança. e o meu choro não devia ter ocorrido conforme meu irmão, criança como eu. inconscientemente entre nós dois, crianças, passou a haver uma disputa qto a tudo. coisa q nunca ocorrera antes. um fato isolado no meio de outros q nem te marcam tanto acabam aprofundando uma questão e se a gente deixar...
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acredito, pelo que falou, que você foi só sim. e a sua entrega ao nada, depois de ter feito tanto, doi sim. sei disso. assim, como contraponto, a minha solidão de hoje, que falo tanto dela com você.
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mas uma coisa lhe digo: como você tem estado melhor, buscando encontrar-se de outra forma, amiga. o mundo é um moinho, lembre-se disso. há sempre uma pedra no meio do caminho. e vc as tem enfrentado de uma forma como nunca vi antes.
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essa "doença" não nasceu com você. ela é fruto de tudo que passou e q está superando, su! esquecer-se das coisas, etc...é fruto do "ócio" a que vc se entregou por não acreditar mais em você. você não se via e agora está se vendo. dói? sim, doi e muito. mas você está enfrentando a dor e superando-a. a recaída vem? sim. mas a su volta. essa su que está se buscando. acho ótimo que sinta as dores. elas estão ajudando você a reagir. assim como nos nossos papos você me ajuda tanto. você é forte e a culpa não cabe mais em você. trabalhe-a como tem feito e ainda vamos rir muito de tudo isso.
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oi, preciso de você, su! com quem vou contar pra me cutucar sobre os meus grilos? um bjo enorme!

Cotidiano disse...

Bini amiga recente e de sempre e para sempre!
Como foi bom te reler neste momento!
Quantas verdades e afeto nestas sua palavras!!
Não creio ainda que um dia eu possa rir disto tudo,Mas estou fazendo de tudo para que sim.
Te amo muito minha amiga!

Jane Di Lello disse...

Amada Princesa Suzana, relê grandes mestres é tudo de bom, alento pra alma, e doce mel para o espirito.
Parabéns pelo lindo Blog, e por tão lindas e sábias belezas nele contido.
A beleza da vida consiste exatamente no aprendizado, aqui com você enriquecemos + ainda nosso ser.
Obrigada amiga linda.
BeiJaness neste coração brilhante.
Jane Di Lello.