Tantas coisas a esquecer
Queria poder esquecer tantas coisas que me entristeceram e marcaram minha vida para sempre!
A primeira infância solitária,isolada num mundo particular com minha
boneca Cecília.O pavor do primeiro dia de aula em que entrei sozinha na
escola sem a companhia da minha mãe.
Da professora que escondeu os docinhos da minha festinha de aniversário
e só ofereceu pipoca.
Da vez que escrevi Sabiá com ç,e todas classe deu risada.
Da vergonha que sentia quando os meninos me chamavam de gostosa e
eu nem sabia como lidar com isso,mas já invejada pelas outras meninas e criticada por minha mãe.
Queria esquecer o deserto afetivo em família para poder construir uma outra.,mais continente,equilibrada e respeitosa.
Queria esquecer da rejeição e tornar-me uma mulher mais segura de mim.
Queria esquecer que meu primeiro amor preferiu me ter como amiga e namorou a minha melhor amiga.
Queria esquecer os amigos mortos pela AIDS,as traições amorosas e fraternas.A doença e morte de meu pai e sobrinha.
AH! tantas outras memórias poderiam ser apagadas da minha cabeça.
Mas não, foi esta maldita doença que nasceu comigo e que obriga a tomar um determinado remédio,que me faz esquecer de coisas fundamentais para o dia dia .onde coloquei meus óculos,minha agenda,,meus documentos o que iria dizer ou escrever ,compromissos,em .fim, enlouquecedor !
Esta doença que retirou de mim o prazer pela minha profissão e me trancou no quarto.
Este remédio que faz com que escreva de trás prá frente,que perca o vocabulário desenvolvido pelos anos de leitura.Que me tirou a concentração para a leitura.
Ah,porque já não me tira de vez a memória,para que eu não tenha a consciência desta degeneração lenta dos neurônios,que me transforma num fantasma risível da pessoa que fui.
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